quarta-feira, 4 de maio de 2011

Renato Augusto Farias de Carvalho: Literatura confluente entre o Amazonas e o Rio de Janeiro


Nem só de nativos a literatura fluminense se engendra. É também – e principalmente – com os filhos “agregados” que esta cultura se faz. Neste caso, todos os que, por amor, se chegam ao nosso estado para compor o corifeu de nossa literatura são filhos (filhos tão legítimos quanto os nascidos no estado do Rio de Janeiro). Trata-se de uma legitimidade de mão dupla, pois, além de adotados, são também “adotantes”, isto é: elegeram de bom grado nosso espaço espiritual para fazer sua arte. A criação, um lócus, o amor eletivo. Legitimamente eletivo (!)
Bem como Geir Campos, outro nome que se adequa ao caso acima  é o de Renato Augusto Farias de Carvalho. Conheçamos, pois, um pouco de sua arte, antes de conhecer sua persona:


Vida

para Beatriz Chacon

Eu nunca soube dizer
da excêntrica fantasia
cegueira e guia
das minhas proezas
caras envergonhadas,
destino calado onde entrouxei
o homem dissimulado.

Pré-venerável
cerro fantasias
alegrias perdidas.

Vida, vem como dantes
vem, e não me tragas feridas.


Nós

deitei sem respirar
no travesseiro de afetos
da tua barriga branca
solfejo errado
teclado prateado
estranho canto pálido
na inconstante cama
iluminada quina de amor
para dois namorados que “fotografei”
na mente numa velha ponte do Praga
 
(CARVALHO, Renato Augusto Farias de. Eu ainda não disse tudo. Manaus: Valer, 2011).




Renato Augusto Farias de Carvalho nasceu em Manaus/AM no dia 30 de junho de 1935. Em sua terra natal, estudou no Colégio Salesiano Dom Bosco. Na cidade do Rio de Janeiro/RJ, para onde se mudou em janeiro de 1952, continuou seus estudos no Colégio Andrews, tendo participado do Grêmio Acadêmico, que ajudou a fundar. No início de 1978, passou a residir em Niterói/RJ. Graduou-se em Letras (Língua e Literatura – Português/Francês) na então Faculdade de Humanidades Pedro II (FAHUPE). Pós-graduou-se em Administração Pública na Fundação Getúlio Vargas. Exerceu diversas funções e cargos na Previdência Social (Direção Geral – RJ), aposentado-se em 1989. Ocupante da cadeira nº 6 da Academia Niteroiense de Letras, também é membro do Cenáculo Fluminense de História e Letras e da Associação Niteroiense de Escritores. Publicou os seguintes livros: Porto de Ocasos (ficção/memórias. 1998. Editora Cromos), Poesia-do-que-eu-quis (poemas. 2002. Editora Cromos) e Vinho e Verso (poemas. 2005. Ed. Valer). Entre as diversas medalhas já recebidas, destacam-se a José Cândido de Carvalho (conferida pela Câmara Municipal de Niterói) e a do Mérito Cultural Belas Artes (conferida pala Associação Fluminense de Belas Artes). Participou, como entrevistado, do projeto “Personalidades de Niterói”, iniciativa da Associação Atlética do Banco do Brasil – AABB/Niterói. Autor dos enredos carnavalescos “Jorge Amado – do País do Carnaval à Tieta do Agreste” (1978) e “E agora malandro? – Você ganhou a loteria!” (1979), desenvolvidos para Escolas de Samba de Niterói, e de monografia sobre o Clube da Madrugada (movimento cultural de escritores amazonenses nos anos 1950). Das muitas palestras proferidas, destacam-se: “Teatros do Brasil” (participação de Beatriz Chacon e Thuany Feu de Carvalho), “Fagundes Varela”, “Cora Coralina e Manoel de Barros (participação de Gracinda Rosa e Lena Jesus Ponte), “Xavier Placer, 50 anos de literatura”, “Adelino Magalhães, e o pré-modernismo”, “Cora Coralina e Florbela Espanca, um encontro tão possível”, “Articulação poética aproximando Luiz Barcellar e Jorge Tufic” e “Lindalva Cruz e suas composições amazônicas”. É autor de contos e crônicas publicados em jornais e revistas e de alguns prefácios. Possui textos em antologias.





domingo, 1 de maio de 2011

A "geometria poética" de Placer

Quem são os “atores” da Renascença Fluminense? As postagens anteriores suscitaram perguntar como essa. Essas desejam saber se teríamos talentos que pudessem encabeçar a proposta de um renascimento da cultura literária fluminense (e, se caso houvesse, quem seriam essas figuras). As postagens que se seguirão a esta vêm responder a essas indagações. Apresentaremos alguns dos escritores que compõem o significativo cenário da literatura fluminense (sejam eles vivos-atuantes ou pertencentes a um passado ainda muito vigente). Consideremos homenageados os nomes aqui contemplados; estejamos, pois, preparados para o que é reconhecido como o melhor e o mais louvável na literatura feita no Rio de Janeiro.



Virgiliana, Xavier Placer

A Aurora & Hugo Tavares


As mangas os cajás as tangerinas
Trazidas de Viagem, na fruteira
Guardam nativas o ruço da Serra
Do Mar, o mel do orvalho, inda a friagem


Derrama-se no entorno o grato aroma
O impacto do quadro atrai olhares
Principalmente aquele pequenino
Povo de insetos, avoantes das frutas


Também as calateæ burle marxii
E o arranjo das bromélias chamam vespas
Das asas ensolaradas, zumbidoras


E os sumarentos frutos brasileiros
Compõem, com as cores da florália
Esta agridoce égloga do trópico.
(PLACER, Xavier. O Geômetra. Niterói: Letras Fluminenses, 1992