sexta-feira, 7 de outubro de 2011

Saudação a Miguel Coelho (in memoriam)

Pronunciamento proferido por Wanderlino Teixeira Leite Netto na XV Bienal do Livro do Rio de Janeiro e na Livraria Icaraí nos dias 10 e 29 de setembro de 2011, respectivamente:
  







Congratulo-me com a Editora da Universidade Federal Fluminense (EdUFF) pelo lançamento de Miguel Coelho – desenhos e agradeço pelo convite que me foi feito para saudá-lo in memoriam.
Pouco se fala em Carlos Couto. Não são muitos os que se recordam de Manuel Fonseca e de Almiro Baraúna. Ouvem-se mirradas referências a Roberto Paragó, Aloísio Vale... mesmo a respeito dos Campofiorito (Quirino e Ilda), quase não se fala. Alaôr Scisínio, Lyad de Almeida, Jacy Pacheco, Angelo Longo, raramente são mencionados. Vale lembrar que Lyad foi o primeiro presidente do Instituto Niteroiense de Desenvolvimento Cultural, precursor da Fundação de Arte de Niterói, à qual se vincula a editora Niterói Livros; que Angelo Longo criou e manteve por muitos anos a Editora Cromos, de tantos serviços prestados ao editorialismo niteroiense.
Na arte cênica, na fotografia, nas artes plásticas, na literatura, fui buscar alguns exemplos de nomes que talvez não estejam sendo reverenciados conforme fizeram por merecer. Efusivos aplausos, portanto, à iniciativa da Editora da UFF de publicar postumamente desenhos de Miguel Coelho.
Miguel Coelho nasceu no dia 29 de setembro de 1934 na pequena Matipó, Zona da Mata de Minas Gerais, e teve infância de menino de roça, vivida na fazenda do avô, o temido Cel. Abelha. Após uma passagem por Campos dos Goitacases, acabou cooptado por Niterói, que o adotou como um de seus filhos mais diletos e onde faleceu em 9 de março de 2007.
Sua vocação para o desenho e para a pintura veio com a leitura das revistas Tico-tico e Globo juvenil. Começou sua atividade artística esculpindo pequenas estatuetas de índios, que vendia para turistas.
Miguel frequentou a Escola Nacional de Belas Artes, na cidade do Rio de Janeiro, na qual muitas vezes questionou o rigor acadêmico. Nesta época, aproximou-se de Candido Portinari.
Marxista, militou nas fileiras do Partido Comunista Brasileiro e participou ativamente de campanhas de cunho nacionalista.
Em 1969, surgiu em Niterói o “Movimento Poesia-Cartaz”. Poemas de Afonso Estebanez, Carlos Couto, Cesar Araújo, Fernando Gonçalves, Francisco Maciel, Gastão Neves, Oriovaldo Rangel, Pedro Paulo Gavazzoni, Silésio Nascimento e Miguel Coelho foram ilustrados pelo próprio Miguel, Guima, Israel Pedrosa, Levy Menezes, Nilton Rezende e Paulo Pimentel, sendo expostos em Niterói, na cidade do Rio de Janeiro e em Teresópolis. O “Poesia-Cartaz” deu origem ao “Grupo Salina”, que chegou a publicar uma antologia poética, mas teve vida curta e tormentosa. Na época, havia o “Grupo Colina – Comando de Libertação Nacional”, com outros objetivos, evidentemente. Naquele tempo, porém, uma simples coincidência sonora bastava. Em consequência, os integrantes do “Salina” acreditaram ser prudente desativá-lo.
A generosidade foi um traço marcante da personalidade de Miguel Coelho. Foram inúmeros os escritores seus conhecidos que tiveram livros por ele ilustrados. A nenhum deles o nosso homenageado exigiu pagamento por conta do seu trabalho. Costumava dizer que para amigo não botava preço.
Além disso, gostava de homenagear amigos diletos, inserindo suas figuras em alguns quadros. Por exemplo, em “Bois pintadinhos”, óleo sobre tela, lá estão Alaôr Scisínio e Luís Pimentel como integrantes de uma bandinha de interior. Um a tocar sanfona, outro a soprar um trombone de vara. Já em “Jazz”, também óleo sobre tela, Alaôr toca clarinete; Pimentel, banjo.
Miguel Coelho foi também exímio no bico de pena, por meio do qual reproduziu fortes, igrejas e fazendas, num trabalho de preservação de nossa memória patrimonial.
Nosso homenageado participou de inúmeras exposições, individuais e coletivas, e de salões de arte em vários municípios brasileiros e também na Alemanha, onde expôs individualmente em 11 cidades. Sua temática principal foi a brasilidade, por meio de relações dialéticas entre o rural e o urbano, o tradicional e o contemporâneo, o sagrado e o profano. Mas Miguel não se restringiu a esse tema. Em “Suíte Cinza”, por exemplo, despontam pinturas geométricas em total liberdade criativa. Valendo-se da pedra-sabão, também esculpiu. Quase sempre eram figuras de traços exagerados, volumosas.
Talvez alguns não saibam, mas Miguel Coelho transitou pela literatura, pela música, pela atividade jornalística, nesta última como colunista de jornais e revistas. Teve uma de suas poesias premiadas no “Concurso Nacional de Poesia Falada”, realizado por Gastão Neves na década de 1960. Foi vencedor do “Concurso de Contos LIG/Pasárgada”, em 1977, e do “Concurso Literário Stanislaw Ponte Preta”, promovido pela Rio-Arte em 1995. No papel de compositor, ganhou medalha de ouro no “II Festival Fluminense da Canção Popular”, em 1968. No ano de 1970, dupla premiação: vencedor do “IV Festival Fluminense da Canção Popular” e finalista do “V Festival Internacional da Canção”, promovido pela Rede Globo de Televisão. Em 1972, foi autor do melhor samba-enredo do carnaval de Niterói. Portanto este artista plural merece mesmo nossa consagração.
Quando Miguel Coelho transferiu seu ateliê para o bojo de uma nuvem, percebi matizes de suas tintas no pôr do sol, disse acreditar que sairia de seus pincéis o próximo arco-íris, afirmei que haveríamos de sentir sua presença nas auroras e nos crepúsculos, no azul do céu e no cintilar das estrelas. E assim tem sido. Pelo menos para mim, que acredito na perenidade das artes e tenho por hábito adubar saudades para fazê-las florir.


Registramos aqui um agradecimento cordial a Manoel Casimiro Lopes (Manekolopp)
 por ter cedido imagens e vídeo para esta postagem.





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quinta-feira, 6 de outubro de 2011

Comunhão... Carlos Rosa Moreira

Nessa quinta-feira, dia 06/10 - após a quarta, dia 05/10 - que o Literatura-Vivência seja todo comunhão, nas palavras de Carlos Rosa Moreira e na canção de Beth Rowley:

Ilha de Boa Viagem na lente de Rick Ipanema


Comunhão

                                                                                                                             Carlos Rosa Moreira

Mergulhei nas minhas velhas águas, cristalinas como soem ser as águas no inverno. Ultrapassei as pedras expostas pela maré baixa e dei as primeiras braçadas quando meus pés já não tocavam o fundo.
Refazia parte de um percurso que foi o meu exercício favorito durante a juventude. Nadava de Icaraí a Flechas, corria toda a praia, mergulhava nas Velhas e nadava até a Ilha da Boa Viagem; corria de novo e circundava a ilha nadando, escalando e caminhando. Depois fazia tudo igual na volta.
Saí nadando ao lado do “Torreão” e fui até as “Duas Irmãs”, dali escalei e subi ao fortim, depois peguei a velha trilha que circunda a Boa Viagem. Minha intenção era continuar o exercício, dar mais umas braçadas e correr na praia, mas aí ouvi uns gorjeios e parei no meio da mata. Era uma cambaxirra. Fazia tempo que não ouvia uma cambaxirra. Ou, talvez, fizesse tempo que eu não percebia que já não ouvia cambaxirras. Abaixei-me e fiquei quietinho, buscando o pequenino no meio das galhadas. Cambaxirras são mais fáceis de ouvir do que de ver, mas vi o bichinho saltitar por entre os ramos de uma aroeira: saltita e gorjeia, gorjeia e saltita.
Estava eu a ver e ouvir cambaxirra, quando o tempo mudou. O céu cinzento já ameaçava, aí o vento rondou e deu uma varrida no mar. Caíram os primeiros pingos, grossos e espaçados, como se fossem os batedores do imenso exército que avançava. E a chuvada veio. Toró que lavou o sal do meu corpo e retirou da mata a poeira urbana. Quando cessou, deixou as folhas com um verde brilhante e o ar todo perfumado com aquele cheiro bom de terra.
De cócoras deixei-me ficar no meio da trilha da Boa Viagem. Depois da chuva e da ventania restou uma brisa suave vinda do sul. Eu estava cercado pelo perfume da terra e da mata e pelo aroma de oceano que a brisa trazia. Um sabiá-laranjeira pousou num galho acima da minha cabeça, cantou como se fosse o último dia de sua vida e depois embarafustou-se por entre as ramas da aroeira onde ainda gorjeava a cambaxirra. Atobás pairavam bem alto, um bem-te-vi clamava da terra, e eu respirei fundo aquele ar à minha volta. Bem quieto, não queria que a natureza soubesse de mim. Pode-se ver e ouvir muita coisa quando se está integrado à natureza. Certa vez, numa ilha deserta, vi um papagaio. Talvez seja uma visão banal, mas papagaios em ilhas me encantam desde que li a “Ilha do Tesouro”. Nunca vi macaco em ilha, mas já vi cabras, cujos avós foram abandonados por algum navio num passado distante. E, naquele momento, bem ao meu lado, junto à trilha, eu via uma pitangueira. Sofrida, raquítica, batida incessantemente pelos ventos marinhos, mas, pitangueira. Remanescente dos tempos em que por aqui reinavam tupinambás e maracajás. Um pouco mais à frente, eu sabia, havia a ingazeira. Muitas vezes provei a polpa adocicada dos seus frutos. Não sei se isso é emoção que se apresente, mas toda vez que encontro um pé de fruta selvagem fico fascinado. E aquelas são nossas frutas, frutas da nossa terra que também fascinaram o peró e o mair que vieram de longe para brigar por essas praias.
Estava eu naquele êxtase, vendo belezas e ouvindo melodias, percebendo sabores e sentindo perfumes. Então foi chegando uma tranquilidade e fui tomado por uma grande vontade de ficar ali. E pensei que talvez não fosse mau morrer assim, espojado sobre a terra. Morrer como um bicho qualquer que se vai deste mundo porque tem de ir, tendo a companhia de uma bromélia, os olhares coloridos das orquídeas, acalentado pelos trinados dos pássaros e envolto pela brisa do mar. Só deitar e morrer, deixar o corpo na terra para rebrotar e, algum dia, de algum modo, ser de novo coisa viva. Talvez uma árvore que ofereça um perfume selvagem ou um singelo fruto sápido. Um modesto vegetal que, se não tiver nada a oferecer, cubra o caminho com a simplicidade de uma sombra fresca em meio ao silêncio da mata. Esse silêncio sussurrado das plantas que às vezes embala estranhos sonhos.




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quarta-feira, 5 de outubro de 2011

A 11ª Aula magistral! Leonardo da Vinci segundo Israel Pedrosa


A ABL sediou o ciclo de conferências no Ano da Itália no Brasil.


A Academia Brasileira de Letras realizou hoje a terceira conferência do ciclo “A Itália no Brasil: diálogos e influências”, o tema apresentado foi: “A presença permanente de Leonardo da Vinci”, com Israel Pedrosa. Com coordenação geral do Acadêmico e Presidente da ABL Marcos Vilaça e coordenação do Acadêmico Marco Lucchesi, o evento reuniu um público seleto interessado em artes.
Israel Pedrosa, que há 17 anos vem escrevendo um livro falando das aulas magistrais que mestres como Hieronymus Bosch, Vermeer de Delft, William Turner e Cândido Portinari apresentou hoje um texto derivado do capítulo dedicado a Leonardo. Previsto para ser lançado em 2013, o público da ABL teve oportunidade de assistir uma prévia do que será o livro Dez aulas Magistrais. Quem sabe tenham assistido a décima primeira aula, ministrada pelo próprio Pedrosa. As fotos ilustram o evento:

O acadêmico Marco Lucchesi abre os trabalhos apresentando Israel Pedrosa.

A conferência de Israel Pedrosa.

Acadêmicos da ABL (identifica-se Cícero Sandroni em primeiro plano)
 vieram prestigiar o ilustre conferencista.

Israel Pedrosa no início de sua conferência

A Academia Niteroiense de Letras marcando presença. 




Israel Pedrosa (2000). Réplica de "Dama com arminho", de Leonardo da Vinci.
Óleo sobre tela. 77 x 53 cm.

Apresentação de slides com as réplicas pintadas por Pedrosa dos quadros de Leonardo

Réplica do quadro "Batalha de Anghiari", de Da Vinci

Pedrosa recebe os cumprimentos dos acadêmicos da ABL.

Marcia Pereira, escritora, publisher da Edições Galo Branco com Israel Pedrosa

João Cândido Portinari e o acadêmico Marco Lucchesi.

Roberto Kahlmeyer-Mertens e João Cândido Portinari

 
Da esquerda para a direita, Renato Augusto F. de Carvalho,
Carlos Rosa Moreira, Eugênio e Marco Lucchesi.

Os escritores Renato Augusto Farias de Carvalho e Marco Lucchesi

Os professores Roberto Kahlmeyer-Mertens e Rogério Ronaldo Freitas Mourão.

Mourão com Lucchesi

Portinari, Marcia Pereira e Pedrosa.


Mostra das réplicas das obras de Leonardo pintadas por Israel Pedrosa.

Kahlmeyer-Mertens, Pedrosa, Lucchesi e Marcia Pereira

A réplica de Israel Pedrosa do quadro Anunciação, de Leonardo DaVinci.

Anunciação (original), de Leonardo da Vinci






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terça-feira, 4 de outubro de 2011