sexta-feira, 14 de outubro de 2011

"Comigo", crônica de Belvedere Bruno




Comigo (Crônica)

                                                                                                                                  Belvedere Bruno

Ando com a alma triste e, no semblante, um sorriso enganador. Eu, que sempre frisei que a mentira era o maior dos males! Mas não a convidei, ela se instalou simplesmente e parece não ter data de partida. Terá encontrado seu habitat em mim?
O tempo pintado em gris acentua essa sensação de perda. É como se, a cada momento, minha energia se esvaísse através de meus poros. Quisera ver arco-íris, mas por onde andam? Perco-me nos labirintos de meus pensamentos quando rememoro aquilo que, de tão distante, parece que nunca existiu.
Já fui feliz, sim. Senti o aroma das flores e me inebriei. Dormi pacificada com o bater das ondas nas pedras, o cheiro de maresia. Já dancei parecendo deslizar nas nuvens. Beijei e fui ao paraíso.
Por que minha alma de repente ficou triste e me transmutei em falsidade, mantendo um sorriso enganador? 
Resta-me um desejo: a visão do arco-íris, primeira referência de assombro, beleza e êxtase em minha vida.
Reflito sobre a existência do eu. Terei, de fato, existido? Talvez tenha sido um simulacro. O que é a vida, senão uma frenética busca? Se um dia percebemos a fuga ou o estranhamento em relação ao nosso eu, é porque nunca existiu ou não nos foi fiel.
E cá estou, comigo, esse ser estranho.





Divulgação Cultural
(Clique na imagem para ampliar)



quarta-feira, 12 de outubro de 2011

O brilho do poeta Cândido Portinari.


Cândido Portinari

Sabe-se que a casa de Cândido Portinari vivia cheia. Eram os amigos e os amigos dos amigos que entravam e saíam numa espécie de frenesi. Tal entusiasmo comprazia ao próprio pintor que tinha sempre em sua volta nomes como o de Carlos Drummond de Andrade, Heitor Villa Lobos e Manuel Bandeira. Conta-se que, certa vez, após um almoço, um semi-desconhecido levantou-se da mesa, pediu a palavra, e fez um discurso pirotécnico em honra de Portinari; após, abalou pela porta se lançando no interior do primeiro taxi que passava.
Recobrados do repente, um dos convidados perguntou a Cândido Portinari o que ele teria achado daquela fala; Portinari, com a simplicidade e graça de um camponês de Brodowski, disse: “ – Pois é... pintor pinta, literato brilha.”
A anedota, de um lado, joga luz sobre a face humilde e humana do pintor; por outro, oculta ainda mais um traço quase desconhecido do artista. Qual seja? O fato de Portinari também ser literato.
Sim! Poucos sabem disso, mas o autor de obras primas como Menina sentadaFlautista e Sapateiro de Brodowski também era poeta publicado.
Portinari sempre escreveu e, de vez em quando, submetia seus “escritos” a colegas como Manoel Bandeira e Antônio Callado. Sem nenhum favor a Portinari, ambos escrevem aparatos críticos para um livro intitulado Poemas; ambos elogiaram aqueles versos como possuidores de qualidades estéticas apreciáveis. Portinari, por sua vez, não se valeu de sua reputação de artista plástico para promover sua poesia, muito pelo contrário, preferiu fazer um livro sem ilustrações, não dando vez à autoridade de sua pintura (como conta Callado); o valor daquela poesia ainda é reforçado por Bandeira, quando avalia: “Ainda que Portinari não tivesse sido o grande pintor que foi, toda esta poesia seria válida pelo que ela encerra de aguda e generosa sensibilidade, de registro fiel da vida brasileira no interior.”(p.23)

Em conversa, João Cândido Portinari (à frente do Projeto Portinari) revelou-me que pretende publicar em 2012 – por ocasião do cinquentenário de morte de Cândido Portinari – uma segunda edição de Poemas. Enquanto a edição comemorativa do livro não sai, conheçamos um pouco do Portinari poeta:


PORTINARI, Cândido. Espantalho. 1940.
Óleo sobre tela, 73 x 60 cm. Rio de Janeiro, RJ.


“Sem cílios e sem destino
No ar sem proteção
Espantalho de beira-córrego, os pássaros
Pequenos não se intimidam... Passam.

Aos grandes arrozais. Invisível quase
Flutuando no espaço
Vagando ao léu. Esfiapando e desfeito
Um trapo cuspido

No lodo. Enxugando a lama, será no
Clarear da aurora?
Se tivesse ainda meu canivetinho
De cabo de madrepérola me
Recordaria de tudo daquele tempo.
Veio de presente numa caixa de vinho.

Do Porto. Não dão mais. Era
Um pouco de felicidade embrulhada
Entre garrafas.

Depois tive muitos canivetes
De verdade: apenas cortavam...
O meu vivia: gostava de admirá-lo
Conversávamos durante horas e horas

Onde estará? Transformara-se?
Seria a estrela aqui perto do
Mar? Ou o foguete que foi à lua?
Meu canivetinho, meu canivetinho...”

(PORTINARI, Cândido. Aparições.
In: Poemas. Rio de Janeiro: José Olympio, 1964. p.66).



PORTINARI, Cândido. Menina sentada. 1943.
Óleo sobre tela, 74c x 60 cm. Rio de Janeiro, RJ.


 PORTINARI, Cândido. Colona sentada. 1935.
Têmpera sobre tela, 97 x 130cm. Rio de Janeiro, RJ.


PORTINARI, Cândido. Flautista. 1934.
Óleo sobre madeira, 46 x 37.5cm. Rio de Janeiro, RJ


PORTINARI, Cândido. Flautista. 1941.
Têmpera sobre tela, 187 x 177cm. Brodowski, SP




Portinari no Dia das crianças:



Divulgação Cultural
(Clique na imagem para ver a animação)




domingo, 9 de outubro de 2011

A arte, as intuições e o belo pelas mãos de Fayga Ostrower.




Assisti a dois cursos oferecidos por Fayga Ostrower no Centro Cultural Paschoal Carlos Magno entre os anos de 1995-96. Vim reencontrar Fayga no YouTube falando de criação e beleza. Feliz reencontro:

OSTROWER, Fayga. Oceano II. Gravura. 1999.


OSTROWER, Fayga. Folhagens. Gravura. 1999.




OSTROWER, Fayga. Abstrato. Litografia. 1990. 62 x 90 cm 


 OSTROWER, Fayga. Abstrato. xilogravura. s/ papel japonês. 60 x 91 cm 


OSTROWER, Fayga. Terra. Gravura em Metal. 1993.






Para saber mais: