quinta-feira, 8 de dezembro de 2011

O Destino de Laocoonte ou Resposta à pergunta: o que é isto, o intelectual?



O texto que se segue é parte da introdução de um livro organizado por mim e a ser lançado para o ano que vem. Trata-se do atrasadíssimo: Conversações com intelectuais fluminenses. Tal livro conta com 20 entrevistas de diversas personalidades de destaque que nasceram ou se radicaram no Estado do Rio de Janeiro, entre eles: o antropólogo Roberto DaMatta, do teólogo Leonardo Boff, do acadêmico Marco Lucchesi, do filósofo Gerd Bornheim, do historiador Ciro Flamarion Cardoso, do poeta Luís Antônio Pimentel, da educadora Célia Linhares, do artista plástico Israel Pedrosa, do jurista Jorge Loretti entre outros. O livro, que conta com o prefácio de Victor Pinheiro (curador do espólio de Benedito Nunes) e com orelhas assinadas por Renato Nunes Bittencourt, busca registrar o perfil do intelectual fluminense na medida em que registra conversas que versam sobre o tema.

O extrato abaixo enfoca a identidade do que seria um intelectual, mais sobre esta ave rara poderá ser vista no livro. Ao fim desta, ainda se veicula uma relação de títulos sobre a temática do intelectual para eventual consulta e aprofundamento de pesquisa:
 
Laocoonte e seus filhos


O Destino de Laocoonte ou Resposta à pergunta: o que é isto, o intelectual?

 
Roberto Kahlmeyer-Mertens

(...)
A noção de intelectual é vasta. A denominação reúne, em torno de si, na mesma proporção, tanto definições quanto controvérsias desde o século XVIII (quando vemos o tema ganhando feição moderna nas intuições iluministas de Kant e nas Preleções sobre a determinação do letrado de Fichte e, depois, com Hegel e com o jovem Marx), sem que isso fosse suficiente para a criação de uma unidade de perspectivas e sentidos. Buscando uma compreensão pacífica que abrigasse essa polissemia, quase nos persuadimos a ceder à ironia de Michel Foucault, quando afirma a ideia de intelectual lhe parecer estranha, não tendo ele conhecido intelectuais: “Encontrei pessoas que ensinam, pessoas que pintam e pessoas que não compreendi bem se elas faziam seja lá o que for. Mas intelectuais, jamais”.1 Foucault acrescenta ter conhecido pessoas que atuam em muitos ofícios, mas reluta em entender o intelectual como um ofício, possuindo uma noção do que esse o seja, apenas por dele ouvir falar.
Ao nos ocuparmos do tema, identificando suas muitas abordagens possíveis, declinamos a provocação do filósofo, pois esta nos deixaria expostos à incerteza e ambiguidade acerca do conceito de intelectual, importante aqui. Assumimos, portanto, um esboço também para uma compreensão do que isto seja. Com essa compreensão, estaríamos salvaguardados de um intelectualismo ingênuo, que pressupõe o intelectual como todo indivíduo dotado de inteligência, e do estreitamento de seu significado na figura do intelectual orgânico (representante e articulador político-ideológico de determinada classe social) como formula Gramsci; discorda a Escola de Frankfurt (propositora da ideia de intelectual crítico) e uma parcela da mídia, muitas vezes, distorce. Isso é motivo suficiente para estarmos convencidos a não deixar o conceito de intelectual apenas subministrado.
O termo intelectual surge negativamente conotado. Vem em desdenhosa oposição a Émile Zola, Marcel Proust e Anatole France, que manifestaram sua indignação frente ao caso Dreyfus (escândalo envolvendo este oficial francês de origem judaica que foi falsamente acusado de alta traição por partidários do anti-semitismo francês).2 Com o tempo, o deboche passou a designar aqueles que prestam o serviço de entender e elucidar a sociedade de seus problemas, como acusa o termo “intellegere”, etimologia que apropriada conceitualmente significa entender.
Pensar o intelectual como este “entendedor”, antes de nos reportar à cultura latina, nos põe em contato com a cultura iluminista, na qual se encontra a proposta do uso esclarecido da razão. O intelectual ali era quem, agindo racionalmente em domínio público, colaboraria com a autonomia do indivíduo, da sociedade e, enfim, da espécie humana. É, portanto, um transformador da sociedade, tornando-a cada vez mais emancipada, garantindo a intelecção dos limites das instituições reguladoras do poder e do papel transformador que cada indivíduo na sociedade pode exercer. Dotado de habilidades e competências, o intelectual as exerce ordinariamente no campo cognitivo (ciência, educação e difusão), prático (direito, ética) ou estético (artes plásticas, literatura etc...) e, extraordinariamente, quando, mesmo sem mandato, intervém nos casos que entende que o estado ou outros sujeitos ferem princípios legais atinentes à realidade humana e que envolvem a ordem e a liberdade coletiva. Deste modo, o intelectual bem poderia ser comparado ao Laocoonte, expresso na riqueza simbólica e instintiva das narrativas greco-latinas. Homero, em sua Ilíada, retrata-o como possuidor de dotes especiais: sacerdote do deus Apolo, Laocoonte é o único a entrever os riscos que, ocultos em “cavalos de Troia”, ameaçam o homem da pólis e a seu povo; é aquele que acha prestar um serviço público, intrometendo-se e pronunciando categoricamente a verdade que intui.3 Os intelectuais, bem como o personagem, estão fadados, apesar de toda a sua veemência, aos poderes vigentes que, sub-repticiamente os sufoca e a sua grei, submergindo-os em múltiplas formas de silêncio.
Recolhidos às suas tarefas habituais ou engajados em causas excepcionais, intelectuais são seres de cultura. Promotores de conhecimento, cronistas de acontecimentos, críticos em permanente vigilância, eles opinam e intervêm na medida em que os acontecimentos se dão, estando prontos a dizer sempre mais do que se conhece, a apresentar o que eles viram além dos outros. Este esboço não pretende esgotar as acepções de intelectual.4
Do intelectual, resguarda-se a variedade de sua formação, titulação, orientação política, profissão e áreas de atuação, seus perfis são diferentes ideológica e socialmente, etária e etnicamente: são gente da filosofia, ciências sociais, letras e história. (...)


Notas:

1 FOUCAULT, Michel. O filósofo mascarado. In: Ditos & escritos II – Arqueologias das Ciências e Histórias dos sistemas de pensamento. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2000. p. 301.
2 Cf: WINOCK, Michael. O século dos intelectuais. Trad. Eloá Jacobina. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2000.
3 HOMERO. Ilíada. In: Obras completas de Homero. Trad. Luis Segalá Estalella. Barcelona: Montaner y Simon, 1955.
4 Cf: NETO, A. L. Machado. Da vigência intelectual – Um estudo de sociologia das ideias. São Paulo: Grijalbo, 1968.


Indicação Bibliográfica:

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ARON, Raymond. El ópio de los intelectuales. Trad. Enrique Alonso. Buenos Aires: Siglo Viente, 1967.

__________. O espectador engajado. Trad. Clóvis Marques. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1982.

BARBOSA, Francisco de Assis. Intelectuais na encruzilhada – Correspondência de Alceu Amoroso Lima e António de Alcântara Machado (1927-1933). Rio de Janeiro: Academia Brasileira de Letras, 2001.

BARTHES, Roland. Escritores, intelectuais, professores e outros ensaios. Trad. Graciete Teixeira et al. Lisboa: Presença, 1975.

BOMENY, Helena. Os intelectuais da educação. Col. Descobrindo o Brasil. Rio de Janeiro: Zahar, 2001.

CHOMSKY, Noam. A responsabilidade dos intelectuais. Trad. Maria Luísa Pinheiro. Lisboa: Dom Quixote, 1968.

CORBISIER, Roland. Os intelectuais e a revolução. Rio de Janeiro: Avenir, 1980.

DEMO, Pedro. Intelectuais e vivaldinos – Da crítica acrítica. São Paulo: Almed, 1982.

GRAMSCI, Antônio. Os intelectuais e a organização da cultura. Trad. Carlos Nelson Coutinho. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1985.

FICHTE, Johann Gottlieb. El destino del sabio. Trad. Eduardo Ovejero y Maury. Madrid: Victoriano Soárez, 1913.

FOUCAULT, Michel. O filósofo mascarado. In: Ditos & escritos II – Arqueologias das Ciências e Histórias dos sistemas de pensamento. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2000. p.301.

___________.Os intelectuais e o poder. In: Microfísica do poder. Trad. Roberto Machado. Rio de Janeiro: Graal, 1979.

GIROUX, Henry. Os professores como intelectuais – Rumo a uma pedagogia crítica da aprendizagem. Trad. Daniel Bueno. Porto Alegre: Artmed, 1997.

GONZALEZ, Horácio. O que são intelectuais. Col. Primeiros Passos. São Paulo: Brasiliense, 1981.

GUITTON, Jean. Le travail intellectuel : Conseils a ceux qui étudient et a ceux qui écrivent. Paris: Albier, 1951.

HOFFER, Eric. Os intelectuais e as massas. Trad. Sylvia Jatobá. Rio de Janeiro: Lidador, 1969.

JACOBY, Russell. Os últimos intelectuais. Trad. Magda Lopes. São Paulo: Edusp/Trajetória Cultural, 1990.

JOHNSON, Paul. Os intelectuais. Trad. André Luiz Barros da Silva. Rio de Janeiro: Imago, 1990.

KAHLMEYER-MERTENS. R. S. Os intelectuais fluminenses em questãoEntrevista concedida a Belvedere Bruno. In: O Santa Rosa. Niterói, 05. ago. 2010.

LAPAPE, Pierre. Voltaire: nascimento dos intelectuais no século das luzes. Trad. Mario Pontes. Rio de Janeiro: Zahar, 1995.

LECLERC, Gerard. Sociologia dos intelectuais. Trad. Paulo Neves. São Leopoldo: UNISINOS, 2003.

LE GOFF, Jacques. Les intellectuels au Moyen Âge. Paris: Éditions Du Seul, 1957.

LEPP, Ignace. L’art de vivre de l’intellectuel. Paris: Éditions Universitaires, s/d.

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LIMA, Alceu Amoroso. Evolução intelectual no Brasil. São Paulo: Grifo, 1971.

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____________. Le déclin de la sagesse. Paris: Plon, 1954.

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MORIN, Edgar. (Org.) La cuestión de los intelectuales – Edgar Morin, Roland Bartes, Martin Heidegger y otros. Trad. Raúl Gustavo Aguirre. Buenos Aires: Rodolfo Alonso Editor, 1969.

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____________. O intelectual na província. Salvador: EdUFBA, 2007.

NOVAES, Adauto. (Org.) O silêncio dos intelectuais. São Paulo: Cia das Letras, 2006.

____________. Intelectuais em três tempos. O Globo. 31 maio 2008. Prosa & Verso. p.5.

RUANET, Sérgio Paulo. As razões do iluminismo. São Paulo: Companhia das Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2003.

SARTRE, Jean-Paul. Em defesa dos intelectuais. Trad. Sérgio Góes de Paula. São Paulo: Ática, 1994.

QU’EST-CE que l’homme? – Semaine des Intellectuels Catholiques (7-13 novembre, 1954. (Org.) Syndicat des écrivains Catholiques, Centre Catholique des Intellectuels Frangaib. Paris: 1954.

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WINOCK, Michael. O século dos intelectuais. Trad. Eloá Jacobina. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2000.




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quarta-feira, 7 de dezembro de 2011

Intelectual, quem?

Até a data da entrega do "Prêmio Intelectual do Ano", oferecido pelo Grupo Monaco de Cultura, Literatura-Vivência fará postagens diárias nas quais o tema do intelectual será abordado. São escritos  que problematizam o estatuto e a identidade do intelectual em nossa sociedade. Os textos, a serem postados até o dia 9 de dezembro (véspera do evento), buscam provocar a reflexão sobre o perfil desta figura tão questionada.
A interação (debate) com nossos caros leitores será bem recebida.





Intelectual, quem?




Para início de conversa, seja-me permitido parodiar, aqui, a conhecida resposta dada por Santo Agostinho, ao ser interrogado sobre se sabia definir o tempo.
Tal qual o autor das Confissões, também eu, a propósito da indagação contida no título deste breve ensaio, afirmarei, a princípio, saber o que é um intelectual. Mas, logo após, assaltado pela dúvida e receoso de incorrer em erro, me apressarei a dizer que não sei bem o que seja um intelectual...
Assim, nesse estado de espírito, vou limitar-me a incitar o paciente leitor, para que, juntos, busquemos, com os meios ao alcance e as luzes do bom senso, uma conceituação razoável e compreensiva desse tipo humano, nem sempre fácil de ser identificado entre as demais ovelhas de nosso rebanho.


Convite ao trabalho

Procuremos ser, na medida do possível, cartesianos, começando por uma definição genérica, a partir da etimologia da palavra. É óbvio que intelectual (substantivo e adjetivo) deriva de intelecto, sinônimo de inteligência. Daí, o registro dos dicionários: “intelectual é a pessoa dotada de poderes superiores de inteligência”; ou “pessoa dada a estudos literários ou científicos”; ou “pessoa que tem gosto predominante pelas coisas do espírito”; ou “pessoa que se ocupa, por gosto ou profissão, com as coisas do espírito”. São definições, um tanto imprecisas, é certo, transcritas pelo sociólogo Gilberto Freyre, no livro Além do apenas moderno (Topbooks, 1973), que focaliza o intelectual, prioritariamente como um tipo social.
Nessa obra, cuja leitura sugiro ao leitor, o Casa grande & senzala desenvolve, magistralmente, oportunas reflexões em torno da situação histórica do intelectual, como tipo, a posição social atual deste e suas possíveis projeções sobre o futuro, particularizado o caso do homem brasileiro, na transição do moderno para o pós-moderno, em que já estamos vivendo.
Tem-se, portanto, que o chamado tipo intelectual, se caracteriza, antes de tudo, pelo uso que faz da inteligência, ou intelecto, dispondo de instrumentos próprios de trabalho, para desempenhar uma operação sintético construtiva, especificamente humana, que é o pensamento. O pensamento, no dizer de São Tomás de Aquino, resulta da conjunção dos cinco sentidos (visão, audição, tato, olfato e paladar) com o intelecto ativo, dotado de seus princípios originários extra-empíricos.
Os instrumentos de trabalho do intelecto, conforme sabemos, têm nome: a atenção, memória, interesse de aprender, hábito de raciocinar e estudiosidade.


O pensamento e a palavra

Nicola Pende, em A ciência moderna da pessoa humana, observa que o pensamento, em sua essência característica, se exprime através da palavra ou do nome. O homem fala, mas, o animal não fala; porque carece de abstrações, não pensa. A palavra é o reflexo imediato do pensamento; a expressão e a comunicação da abstração no conteúdo. Conforme diz Piaget, é a necessidade de socializar o pensamento, a fim de torná-lo mais claro. Pensamos com palavras, e as palavras, por seu turno, são pensamentos pronunciados interiormente, internamente, mentalmente. Note-se, de passagem: existem tantas formas de pensar quantos sejam os indivíduos, sobretudo os tipos humanos psicológicos.
Assim, podemos concluir que paralelamente ao uso dos seus instrumentos de trabalho, acima referidos, não pode o intelecto abster-se de cultivar, ao longo da vida, a arte do pensamento e a arte da palavra (oral ou escrita). É a sua missão.

Sem a capacidade da atenção, sem a concentração mental, sem o acertado aproveitamento da memória, sem a curiosidade que caracteriza o interesse de aprender, sem o hábito de raciocinar ou o emprego correto da razão, sem o manejo hábil e adequado da palavra, sem a prática habitual da leitura de livros, revistas, jornais relacionados com a cultura, está-se vendo que será descabido falar de vida intelectual.
Parece-me que estamos progredindo e poderíamos esboçar, a esta altura, um perfil do intelectual, menos vago e mais específico. “Intelectual é a pessoa (homem ou mulher) que sobressai em seu meio sócio-cultural, mediante o uso que faz da inteligência, tanto na operação do pensamento como pela difusão de conhecimentos ligados às ciências, às letras e às artes, na conversação, e também na produção de obra escrita, oral ou fonográfica, com vistas ao progresso espiritual e moral da Humanidade. Que tal?


As categorias

O Dicionário Analógico da Língua Portuguesa (ou de ideias afins) que é uma adaptação feita por Francisco Ferreira dos Santos Azevedo, do Roget’s Thesaurus inglês, enfileira, entre os termos ou expressões aparentados, analogicamente, com o substantivo intelectual, os seguintes: “ilustrado”, “estudioso”, “pensador”, “sábio”, “notabilidade”, “homem de marca”, “potência intelectual”, “mentalidade de escol”, “homem de vasto saber”, “homem de sólida cultura”, “humanista”, “pantólogo”, “polímata” e “rato de biblioteca”.
Na coluna oposta, reservada aos respectivos antônimos, figuram os “não-intelectuais”, representados pelos termos e expressões que transcrevemos; “ignorante”, “apedeuta”, “iletrado”, “misólogo”, “misóssofo”, “cavalgadura”, “camelório”, “azêmola” e “toupeira”. Esses são os extremos. É evidente que, entre uma extremidade e outra, subsistimos nós as inteligências medianas, nem por isso menos dignas de respeito e consideração, certo?
Quantos aos intelectuais propriamente caracterizados, alguns autores se aventuram a criar categorias, utilizando critérios pessoais, poderosos ou não.
O jusrisfilósofo Norberto Bobbio, por exemplo, na obra “Os intelectuais e o poder” (dúvidas e opções dos homens de cultura na sociedade contemporânea), distingue o intelectual revolucionário (contra o poder constituído) e o intelectual puro (defensor dos valores absolutos), ao examinar o problema antiquíssimo da relação entre teoria e práxis. E tece, ainda, considerações sobre o antiintelectualismo, isto é, a situação dos que não se definem por nenhum dos lados, numa postura de automortificação.
Outro exemplo é o da classificação apresentada por mestre Gilberto Freyre, que em seu livro anteriormente citado, aponta de um lado o tipo do intelectualista (adepto das formas culturais ou sistemas de valores em que predominam os elementos racionais sobre os elementos afetivos ou volitivos, quer dizer os intelectuais exagerados, e, na extremidade oposta, os intelectuários (neologismo criado por José Lins do Rego, para caracterizar o intelectual engajado, comprometido, burocratizado, arregimentado, a serviço, como intelectual, do Estado, do partido, de uma organização ou instituição ou de uma causa, como foi a opção de André Malraux, a serviço do governo de De Gaulle...
Antes de concluir, vou registrar que existe um termo para designar o processo de auto-instituição dos intelectuais: intelligentsia.

O tema, de indiscutível importância, é versado superiormente por Edgar Morin, no quarto volume de sua obra O método, em que ele trata das idéias, seu habitat, vida, costumes e organização (pp. 74-79). É outra leitura que recomendo.

(SOUSA, Sávio Soares de. Intelectual, quem? In: Revista Bali - Letras Itaocarenses . Itaocara: Academia Itaocarense de Letras – AIL, 2009. Ano XX, n. 212. pp. 3-5.)





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terça-feira, 6 de dezembro de 2011

Centésima postagem de "Literatura-Vivência"/ Primeira chamada para o "Prêmio Intelectual do Ano".


O blog Literatura-Vivência completa hoje sua centésima postagem. A data de comemoração é, também, ocasião para reforço dos votos que nos compromete sinceramente com a cultura brasileira (com ênfase na fluminense). Como é dito em nosso editorial, buscamos ser plataforma para lançamento de novos talentos, polo de consolidação daqueles que já estão na estrada há algum tempo e museu de valores do passado que, por ventura, sofram com a falta de memória de alguns.
Conjugando a literatura, as artes plásticas e a filosofia, Literatura-Vivência tenta apoiar e dinamizar a vida acadêmico-literária em nosso país e estado, apoiando incondicionalmente este segmento de nossa cultura.
Aproveitamos o ensejo para agradecer a todos os frequentadores do blog, sejam eles seguidores ou críticos, interlocutores manifestos ou tácitos; também aqueles que nos dão o crédito de escrever e de reforçar as muitas parcerias sem as quais não teríamos chegado à centésima atualização deste empreendimento, com os seguintes números:


Total de postagens até então: 100.
Total de seguidores cadastrados até então: 53. (sejam bem vindos os próximos 530)
Total de acessos até então: 35634.
Média de acesso mensal: 6724.
Média de acesso diária: 230.
Média de comentário em postagens por páginas: 17.

Literatura-Vivência segue, doravante, aos próximos 100 posts com o fôlego renovado por esta postagem comemorativa. Uma postagem centenária como esta, entretanto, não poderia ser vazia de conteúdo. Reservamos para ela a notificação da data da festa da cultura mais importante em Niterói:




Entrega do Prêmio Intelectual do Ano 2011

Anualmente o Grupo Monaco de Cultura, apoiado pelas demais instituições literárias de Niterói, oferece o Prêmio Intelectual do Ano. O galardão geralmente agracia uma personalidade que, ao longo do ano, tenha se destacado por suas contribuições à comunidade literária, fomentando a cultura na cidade de Niterói. Do intelectual do ano espera-se que tenha formação excelente e que suas competências específicas sejam postas a serviço da produção e difusão da cultura de nossa cidade, seja promovendo eventos, dando palestras e conferências, ou organizando e escrevendo livros de interesse da comunidade. Em suma, o intelectual do ano é aquele que por sua inteligência, cultura agregada, brilho e carisma (livre, portanto, de qualquer política favoritista) é reconhecido – unanimemente – como representante da continuação do movimento literário.
O Prêmio Intelectual do Ano vem sendo entregue deste 1987, entre os muitos premiados estão: a colunista social Lou Pacheco, o seresteiro Almanir Grego, o médico Carlos Tortelly da Costa, o procurador público Edmo Rodrigues Lutterbach, a poetisa Maria da Conceição Pires de Melo (Manita), o trovador Milton Nunes Loureiro, o livreiro Carlos Silvestre Monaco e a poetisa e declamadora Neide Barros Rêgo entre outras personagens de nossa cidade.
O premiado do ano de 2011 foi o médico e ex-prefeito de Niterói Waldenir de Bragança (confiram o convite do evento de entrega do Prêmio):





A partir de hoje até a data da entrega do Intelectual do Ano, o blog Literatura-Vivência fará postagens diárias nas quais o tema do intelectual será abordado. São escritos de autores autorizados que problematizam o estatuto e a identidade do intelectual em nossa sociedade. Os textos, a serem postados até o dia 9 de dezembro (véspera do evento), buscam provocar a reflexão sobre o perfil desta figura tão questionada. A interação (debate) com os leitores do Blog será bem recebida.





 
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