quinta-feira, 20 de dezembro de 2012

Sobre o fim do mundo...


 

 Continuam desavisados...
 

É Nietzsche quem diz que: “mais um século de maus leitores e até o espírito estará fedendo”. Pelo visto, vivemos em uma época em que os maus leitores estão em maioria. A última é que, amanhã, dia 21 de dezembro de 2012, o mundo acabaria... (como não rir diante de tamanho disparate!?). Amparados nas previsões do calendário Maia – e fazendo uma leitura tacanha do mesmo – vemos gente construindo bunkers e estocando víveres para a suposta hora que chegará.
Ninguém, entretanto, pensou que o fim em jogo não seria o do mundo, mas o fim de um mundo. Ou seja, o término da vigência de um horizonte humano frente a um outro que - mais que hegemônico – se totalizou inexoravelmente. Nos veríamos, então, diante um modo histórico de ser em que se investe em tecnologia para poupar tempo e, uma vez tendo tempo, se entedia com ele; um mundo no qual as relações entre os homens se tornaram vazias tendo por sentido apenas o comércio de influências e outras conveniências; no qual cada ente virou fonte de recurso disposta ao uso; tudo é moeda vulgar que muda compulsivamente de mãos. Num mundo assim, tudo se reverteu em mercadoria que tem preço, mas é sem valor; tudo se automatizou; tudo é requisição e, o pior, tudo redunda em nada.
Não há motivo de tremor diante de catástrofes monumentais... não deveriam ser essas a nos assustar...
Uma palavra de consolo aos tementes ao apocalipse?! Quem sabe um pouco de memória e bom humor à Drummond seja oportuno:
 
 
 
 
O fim do mundo
 
 
 
 
 
Não se sabe ainda se o mundo acabou realmente no sábado, como fora anunciado. Pode ser que sim, e não seria a primeira vez que isso acontece. A falta de sinais estrondosos e visíveis não é prova bastante da continuação. Muitas vezes o mundo acaba em silêncio, ou fazendo um barulho leve de folha. Tempos depois é que se percebe, mas já então vivemos em outro mundo com sua estrutura e seus regulamentos próprios, e ninguém leva lenço aos olhos pelo falecido.
O mundo primitivo dos répteis, o mundo neolítico, o egípcio, o persa, o grego, o romano, o maia... todos esses acabaram, e muitos outros ainda. A história é cemitério de mundos, notando-se que uns tantos acabaram de morte tão acabada que nem sequer figuram lá com uma tabuleta; não se sabe que fim levaram as cinzas.
Pessoas que aí estão vivas assistiram à morte do mundo em 1.º de agosto de 1914, mas estavam lendo jornal e não compreenderam no momento. Era apenas mais uma guerra na Europa, mas acabou com a belle époque, a douceur de vivre, a respeitabilidade vitoriana, o franco, a supremacia da libra, os suspensórios, o rapé, os conceitos econômicos, políticos e éticos do século XIX – mundo que parecia eterno. Pedaços dele andam por aí, vagando, como o colonialismo, a pressão de grupos financeiros, a servidão civil da mulher, mas pertencem a um contexto liquidado, rabo de lagartixa vibrando depois que o corpo foi abatido.
É possível que a previsão dos astrólogos indianos não tivesse base, e que o mundo atual dure muitos anos. Acredito mesmo que é cedo para ele morrer, se apenas está nascendo, e nem sabe ao certo como é ou será.
Aos sete anos de idade imaginei que ia presenciar a morte do mundo, ou antes, que morreria com ele. Um cometa mal-humorado visitava o espaço. Em certo dia de 1910, sua cauda tocaria a Terra; não haveria mais aulas de aritmética, nem missa de domingo, nem obediência aos mais velhos. Essas perspectivas eram boas. Mas também não haveria mais geléia, Tico-Tico, a árvore de moedas que um padrinho surrealista preparava para o afilhado que ia visitá-lo. Idéias que aborreciam. Havia ainda a angústia da morte, o tranco final, com a cidade inteira (e a cidade, para o menino, era o mundo) se despedaçando – mas isso, afinal, seria um espetáculo. Preparei-me para morrer, com terror e curiosidade.
O que aconteceu à noite foi maravilhoso. O cometa de Halley apareceu mais nítido, mais denso de luz e airosamente deslizou sobre nossas cabeças sem dar confiança de exterminar-nos. No ar frio, o véu dourado baixou ao vale, tornando irreal o contorno dos sobrados, da igreja, das montanhas. Saíamos para a rua banhados de ouro, magníficos e esquecidos da morte, que não houve. Nunca mais houve cometa igual, assim terrível, desdenhoso e belo. O rabo dele media... Como posso referir em escala métrica as proporções de uma escultura de luz, esguia e estelar, que fosforeja sobre a infância inteira? No dia seguinte, todos se cumprimentavam satisfeitos, a passagem do cometa fizera a vida mais bonita. Havíamos armazenado uma lembrança para gerações vindouras que não teriam a felicidade de conhecer o Halley, pois ele se dá ao luxo de aparecer só uma vez a cada 76 anos.
Nem todas as concepções de fim material do mundo terão a magnificência desta que liga a desintegração da Terra ao choque com a cabeleira luminosa de um astro. Concepção antiquada, concordo. Admitia a liquidação do nosso planeta como uma tragédia cósmica que o homem não tinha poder de evitar. Hoje, o excitante é imaginar a possibilidade dessa destruição por obra e graça do homem. A Terra e os cometas devem ter medo de nós.

 
 

sábado, 1 de dezembro de 2012

Um livro com azo de gênese e com gosto de sol... Renato Augusto Farias de Carvalho

 

Capa do livro de Renato Augusto Farias de Carvalho, na arte de Will Martins.
 
 
“Na gênese, Deus criou o céu e a terra, e a terra era desordem e deserto, uma treva sobre as faces do abismo. Mas um sopro sagrado planava sobre a face das águas. Deus disse: ‘Haja luz’ e houve luz”. (Gen.1, 1-3) À imitação do verbo divino, intromisso, o poeta acrescenta: “...Haja, ainda, partículas de sol”, e a tarefa de ultimar a obra divina passa sem mediações do criador à criatura. Não enquanto o simplório legado de Adão, mas como a herança de Orfeu, que bem sabe da idealidade poética do verba tene, res sequentur.
Ao tanger sua lira, o filho de Calíope (musa da memória e da expressão) afina homem-mundo e o verbo poético faz aflorar os trastes. Como soa uma tal lira? Para saber, basta abrir o presente livro (seria pouco chamá-lo apenas de livro!) e entregar-se à prosa e à poesia de Renato Augusto Faria de Carvalho.
Inundado de afetos – alegrias, amizades, amores, prazeres e um feixe de religiões e sabedorias instintivas – repetidos com a mesma mestria dos livros que os antecederam, Renato renasce enquanto discurso possível desde a memória da infância, no anelo íntimo com seus pares e nos relatos de suas viagens de individuação. Estão todos lá: o viandante num hotel em Cartagena (ou seria Veneza?), o escritor no bucólico quintal de sua casa em Itaipu, as imagens meninamente feéricas das águas amazônicas, das lucíolas e dos arrebóis... Estão todos lá.
Dessa última, que se ressalte um registro quase fotográfico: “O barco, esbelto e orgulhoso,/era empurrado pela magnanimidade da incansável/roda traseira./E navegava, altivo, pelo Tapajós,/ Sem dar valor ao esforço da retaguarda./As crianças transbordavam seu espanto/e não percebiam/o quanto era orgulhoso o velho barco:/um Lord,/induzido pela coragem do fiel criado.”
Notável escritor do verbo e da terra, das águas e da luz, Renato poética-admirada-eloquentemente, crônica-perplexa-mnemonicamente nos desvela um horizonte e nos abre um espaço no qual é possível recordar o quanto a literatura é (re)criadora. Literatura que não se expunge, não faz intertexto e não sacia quem a bebe aos sorvos. Nesse gesto, o leitor se compraz em “pranto, delícia, canção e oração”, como nos diz o poeta, ressalvando da luz sua nitidez etérea.
Não há, aqui, como não recorrer a Shakespeare, em algum lugar de seu The Tempest, quando este assevera sermos feitos da mesma matéria de nossos sonhos. Diante da matéria literária que Renato Augusto Faria de Carvalho nos oferece, é quase um imperativo alçarmos, por meio desta, o devaneio estético da literatura encetada pelo poeta e desenvolvida em consonância (afinação) com a gênese. Celebremos, assim, este canto órfico ao repetir: ...Haja, ainda, partículas de sol; haja, ainda, partículas de sol...      
                                                                           



Renato Augusto Farias de Carvalho nasceu em Manaus/AM no dia 30 de junho de 1935. Em sua terra natal, estudou no Colégio Salesiano Dom Bosco. Na cidade do Rio de Janeiro/RJ, para onde se mudou em janeiro de 1952, continuou seus estudos no Colégio Andrews, tendo participado do Grêmio Acadêmico, que ajudou a fundar. No início de 1978, passou a residir em Niterói/RJ. Graduou-se em Letras (Língua e Literatura – Português/Francês) na então Faculdade de Humanidades Pedro II (FAHUPE). Pós-graduou-se em Administração Pública na Fundação Getúlio Vargas. Exerceu diversas funções e cargos na Previdência Social (Direção Geral – RJ), aposentado-se em 1989. Ocupante da cadeira nº 6 da Academia Niteroiense de Letras, também é membro do Cenáculo Fluminense de História e Letras e da Associação Niteroiense de Escritores. Publicou os seguintes livros: Porto de Ocasos (ficção/memórias. 1998. Editora Cromos), Poesia-do-que-eu-quis (poemas. 2002. Editora Cromos) e Vinho e Verso (poemas. 2005. Ed. Valer). Entre as diversas medalhas já recebidas, destacam-se a José Cândido de Carvalho (conferida pela Câmara Municipal de Niterói) e a do Mérito Cultural Belas Artes (conferida pala Associação Fluminense de Belas Artes). Participou, como entrevistado, do projeto “Personalidades de Niterói”, iniciativa da Associação Atlética do Banco do Brasil – AABB/Niterói. Autor dos enredos carnavalescos “Jorge Amado – do País do Carnaval à Tieta do Agreste” (1978) e “E agora malandro? – Você ganhou a loteria!” (1979), desenvolvidos para Escolas de Samba de Niterói, e de monografia sobre o Clube da Madrugada (movimento cultural de escritores amazonenses nos anos 1950). Das muitas palestras proferidas, destacam-se: “Teatros do Brasil” (participação de Beatriz Chacon e Thuany Feu de Carvalho), “Fagundes Varela”, “Cora Coralina e Manoel de Barros (participação de Gracinda Rosa e Lena Jesus Ponte), “Xavier Placer, 50 anos de literatura”, “Adelino Magalhães, e o pré-modernismo”, “Cora Coralina e Florbela Espanca, um encontro tão possível”, “Articulação poética aproximando Luiz Barcellar e Jorge Tufic” e “Lindalva Cruz e suas composições amazônicas”. É autor de contos e crônicas publicados em jornais e revistas e de alguns prefácios. Possui textos em antologias.



Convite dos lançamentos, clique na imagem para ampliar.
 
 
 
 
 
 
 
 

quinta-feira, 25 de outubro de 2012

"A história em Giambattista Vico", palestra de Marco Lucchesi na ABL


A Academia Brasileira de Letras fechou seu novo ciclo de conferências, denominado “Visões da História”, sob coordenação do Acadêmico, professor e historiador José Murilo de Carvalho.
José Murilo de Carvalho explicou o objetivo e a proposta do novo ciclo: “Visões da História” são manifestações da autoconsciência da humanidade. Fenômeno típico da Idade Moderna, o pensamento sobre a trajetória ou as trajetórias da humanidade constitui um esforço de dar sentido à nossa existência coletiva. Ele mesmo histórico, esse esforço é constantemente renovado. Mesmo mutante, ele se torna cada vez mais importante à medida que a própria História nos parece cada vez menos transparente. O ciclo de conferências sobre “Visões da História”, organizado pela ABL, retomou alguns dos autores clássicos sobre o tema, Maquiavel, Vico, Ortega y Gasset, e examiná-los à luz de um momento de desorientação em que se chegou a propor a ideia do fim da História”, afirmou.
 
O ciclo encerrou-se no dia 23 de outubro com a conferência “A História em Giambattista Vico”, do Acadêmico e professor Marco Lucchesi.

 

Palestrante Marco Lucchesi e o busto de Giambattista Vico.
 
 
O artista plástio Israel Pedrosa, a professora Kátia Brettas e a escritora Luzia de Maria, representantes da intelligentsia niteroiense.
 
 
 
 
José Murilo de Carvalho, mediador da mesa, faz a apresentação do acadêmico Marco Lucchesi,
antes da apresentação. 
 
Luchesi começou a apresentar Vico em seu tempo, suas teses sobre a história, seu confronto com as ideias de Descartes e os controvertidos usos da etimologia feitos pelo filósofo napolitano. 
 
O palestrante fez um elogio da erudição. Ela seria "luz que embeleza o espírito, não apenas um ímpeto colecionista". 
 
Tratando de Croce, Ortega y Gasset e de Collingwood (E o que dizer de Burckhardt, Lucchesi?), o palestrante traçou a "descendência" de Vico. 
 
A interpretação da "nova scientia" de Vico, efetuada por Lucchesi, vai bem mais além daquilo que vemos em Vico et l'historie, de Paolo Cristofolini. 
 
Vista de parte da audiência: acadêmicos Sergio Paulo Rouanet e Domício Proença Filho 
 
 Ao fim, em comentário, José Murilo de Carvalho considerou que, para os filósofos, é muito mais fácil zapear pela história universal do que para os historiadores. O mediador elogiou a desenvoltura de Lucchesi ao tratar do tema.
 
Acadêmicos e amigos mais íntimos congratularam Marco Lucchesi após sua palestra. 
 
 
Marco Lucchesi recebe o afeto do artista Israel Pedrosa
 
Kahlmeyer-Mertens e Lucchesi: amizade, Freundschaft, amicizia, amitié, friendship, дружба, φιλία, amicitia...
 
Lucchesi com Pedro Karp Vasquez e Luiz Roberto, da Editora Rocco. 
 
Luiz Roberto, Pedro Vasquez, Marco Lucchesi e Marcia Pereira. 
 
Luzia de Maria, o acadêmico Marco Lucchesi e a Marcia Pereira. 
 
O prof. Kahlmeyer-Mertens com a acadêmica Cleonice Berardinelli, afinidades eletivas de Maximiano de Carvalho e Silva
 
 
Fim de festa na Casa de Machado de Assis
 
 
 
 
 
  
 

segunda-feira, 17 de setembro de 2012

Tradução do poema “Loreley”, de Heinrich Heine.



Estátua de Loreley no vale do rio Reno, na Alemanha.


“Loreley é o nome de um personagem lendário do folclore alemão, cantado num belíssimo poema por Heine. A lenda diz que Loreley seduzia os pescadores com seus cânticos e eles terminavam morrendo no fundo do mar, já não me lembro de detalhes”. É assim que, no romance Uma aprendizagem ou um livro dos prazeres, Clarice Lispector apresenta o poema de Heinrich Heine que empresta nome à protagonista deste que (em minha modesta opinião) é seu mais impressionante livro. O referido poema, parte integrante de conjunto mais amplo chamado Die Heimkehr (O retorno à pátria), até onde sei, ainda não possuía tradução para o português. Seguem, assim, os versos de Heine sobre Loreleys, Lígias, Leucósias, Partênopes e Clarices...
Folha de rosto de Buch der Lieder, de Heinrich Heine, primeira edição, s/d.
Acervo da biblioteca pessoal de Roberto Kahlmeyer-Mertens

2.
Ich weiss nicht, was soll es bedeuten,
Dass ich so traurig bin;
Ein Märchen aus alten Zeiten,
Das kommt mir nicht aus dem Sinn.
Die Luft ist kühl und es dunkelt,
Und ruhig fliesst der Rhein;
Der Gipfel des Berges funkelt
Im Abendsonnenschein.
Die schönste Jungfrau sitzet
Dort oben wunderbar,
Ihr goldnes Geschmeide blitzet,
Sie kämmt ihr goldenes Haar.
Sie kämmt es mit goldenem Kamme,
Und singt ein Lied dabei;
Das hat eine wundersame,
Gewaltige Melodei.
Den Schiffer im kleinen Schiffe
Ergreift es mit wildem Weh;
Er schaut nicht die Felsenriffe,
Er schaut nur hinauf in die Höh’.
Ich glaube, die Wellen verschlingen
Am Ende Schiffer und Kahn;
Und das hat mit ihrem Singen
Die Lore-Ley gethan.
(HEINE, Heinrich. Die Heimkehr. In: Buch der Lieder.
Berlin: S. Fischer Verlag, s/d. p.109)
 
2.
Eu não sei o sentido
De tristeza tão assaz 
Por um conto de tempo ido
Que significado a mim não traz.
O ar fresco e profundo,
O Reno manso a fluir;
Das montanhas cintila o cimo;
Da tarde de sol, o luzir.
A mais bela moça sentada
Em maravilhoso lugar,
Seu cabelo dourado penteia,
Com o ouro dos adornos a lampejar.
Ela alisa louras cãs caídas aos ombros
E canta uma canção que alicia;
Há um assombro
Em sua poderosa melodia.
O navegante no pequeno navio,
Capturado por selvagem dor,
Não divisa o recife rochoso,
Só visa à face superior.
Creio, as ondas hão de arrastar
Ao fundo, navegante e barco
Eis o que, com seu cantar,
Loreley leva a ato.
(Tradução do alemão feita por R. S. Kahlmeyer-Mertens)


  

segunda-feira, 6 de agosto de 2012

"De tudo ficaram três coisas..." por Fernando Sabino




Francis Bacon. Estudo sobre o corpo humano. (1949)


De tudo ficaram três coisas...



"De tudo ficaram três coisas...
A certeza de que estamos começando...
A certeza de que é preciso continuar...
A certeza de que podemos ser interrompidos
antes de terminar...

Façamos da interrupção um caminho novo...
Da queda, um passo de dança...
Do medo, uma escada...
Do sonho, uma ponte...
Da procura, um encontro!"




Divulgação Cultural
(Clique na imagem para ampliar)



sábado, 4 de agosto de 2012

Inauguração do novo ateliê de Israel Pedrosa: Premiére a "Dez aulas magistrais"


“Aulas ministradas à humanidade, através da vida e da obra de alguns dos pintores que trouxeram contribuições originais à abrangência da pintura, de Leonardo da Vinci a Jackson Pollock”.


Pormenor do quadro "Jardim das Delícias" de Bosch.

É com a citação acima que  o artista plástico brasileiro Israel Pedrosa descreve – em uma entrevista ainda inédita (*) – a intuição primeira de seu mais novo livro Dez aulas magistrais, livro do pintor que vem sendo escrito e reescrito (submetido a um altíssimo grau de exigência de seu autor) desde 1980. Naquela década, tomado por um entusiasmo que o fazia trabalhar até dez horas por dia, Pedrosa criou reuniões periódicas nas quais capítulos de sua Magnun Opus eram apresentados aos amigos mais diletos, gente das artes e das letras. No trecho abaixo, o autor/pintor descreve aqueles balões de ensaio:

“Somente um grupo de amigos mais próximos ligados de alguma maneira ao meu trabalho tinha acesso ao meu ateliê. Periodicamente nos reuníamos para a leitura dos textos elaborados. A leitura era feita pela professora e escritora Luzia de Maria, cujo talento para isso é notável. Essas reuniões eram feitas pela manhã e após a leitura e comentários sobre os textos, almoçávamos, almoços que, em longos colóquios, às vezes se estendiam até às quatro horas da tarde. Os mais assíduos frequentadores dessas reuniões eram: o astrônomo Ronaldo Rogério de Freitas Mourão; Meli, viúva do escritor José Cândido de Carvalho; Maria e João Candido Portinari (respectivamente: viúva e filho de Portinari); meus filhos Ulianov, Jamile; Marco Lucchesi; Luzia de Maria e Faraday, Kátia de Marco, Kátia Bretas, Dora Sodré e Maria José Latini de Carvalho, Maria Líbia e Orestes, José Maria e Anita Santoro, e o Alaôr Eduardo Scisínio”.(**)

No mesmo espírito dos encontros iniciais, no dia de hoje, Niterói reviveu aqueles dias de phília dialógica em torno da cultura e da intelectualidade. Na referida data, o Pintor – junto a um pequeno e seletíssimo grupo de convidados – não apenas apresentou publicamente o resultado das obras de ampliação de seu ateliê, quanto brindou a todos que estavam presentes com a leitura do capítulo de seu Dez aulas magistrais dedicado ao mestre Hieronymus Bosch. Quem esteve presente na ocasião, ainda teve oportunidade de contemplar algumas réplicas de quadros do renascentista pintadas pelo próprio Pedrosa (saldos do esforço do autor/pintor por descobrir e recriar os processos e técnicas criativas utilizados por Bosch).

O registro deste dia, que já prenuncia o êxito de Dez aulas magistrais (a ser publicado em 2013), é o que se tem na presente postagem de Literatura-Vivência.


(*) PEDROSA, Israel. Entrevista concedida a Roberto S. Kahlmeyer-Mertens. In: Conversações com intelectuais fluminenses. (Org) R. S. Kahlmeyer-Mertens. Niterói: Nitpress; EdUFF.

(**) Idem.



Placa em bronze na porta de entrada do ateliê de Israel Pedrosa, com escritura de Marco Lucchesi.
Quando indagado por mim: " - Então, é aqui que tudo acontece?" a resposta jocosa de Pedrosa foi: " - Quase tudo!"


Os primeiros convidados chegam para conferir o novo espaço do ateliê de Israel Pedrosa.
Na foto, além do pintor (canto direito) se pode divisar o literato Edir Meirelles e Raquel Cecchin Meirelles (de costas).


Também o filólogo Maximiano de Carvalho e Silva foi convidado a conhecer o novo atelier do Pintor. Neste sábado, Maximiano (em conversa com o ex-presidente da União Brasileira dos Escritores - UBE-RJ) relembrou os encontros literários no apartamento do bibliófilo Plínio Doyle (Sabadoyles).


O anfitrião Israel Pedrosa faz as honras da casa e explica o propósito da reunião, antes de passar a palavra para Luzia de Maria, leitora do texto de Dez aulas magistrais.


Maximiano, Pedrosa e Luzia


Luzia de Maria, ao centro, inicia a leitura do capítulo sobre Hieronymus Bosch em Dez aulas Magistrais.


O quadro "O viajante" (também conheciso como: "O filho pródigo") foi uma das telas de Bosch reproduzidas por Israel Pedrosa.


Após a leitura do texto de Pedrosa, o poeta Affonso Romano de Sant'Anna teceu considerações sobre o bom uso do conceito de carnavalização e do recursos feitos pelo autor às ideias de Mikhail Bakhtin.
Em meio aos presentes na foto: Marina Colasanti (sentada), Cícero Mauro Fialho (ex-reitor da UFF), Affonso (ao centro), os escritores Wanderlino Teixeira Leite Netto e Lena Jesus Ponte e Maximiano de Carvalho e Silva.

Israel Pedrosa retoma a palavra desejando que nos divirtamos naquela manhã de artes e letras.



Retrato da dispersão após a leitura e comentários sobre o texto de Pedrosa.
(no sentido horário, se identificam: a escritora Marina Colasanti; ao fundo, Israel Pedrosa, João Cândido Portinari e Affonso R. Sant'Anna; Carlos Monaco, Edir Meirelles, Raquel C. Meirelles, Maximiano de Carvalho e Silva (ao centro) e Cícero Fialho (de costas em primeiro plano).


Apreciando as réplicas de Bosch: Israel Pedrosa, Affonso R. Sant'Anna e João Cândido Portinari.


O poeta Affonso Romano de Sant'Anna ao lado do pintor Israel Pedrosa


Affonso Romano de Sant'Anna, Roberto S. Kahlmeyer-Mertens e Israel Pedrosa


Retrato do carinho mútuo entre Israel Pedrosa e João Cândido Portinari


O Prof. Faraday com Luzia de Maria e Marina Colasanti


Réplica em tamanho original do quadro "A nau dos insensatos" de Bosch, feita por Israel Pedrosa




O casal de escritores, Lena Jesus Ponte e Wanderlino Teixeira Leite Netto


João Cândido Portinari, Israel Pedrosa, Affonso Romano de Sant'Anna e Maximiano de Carvalho e Silva (na pauta da conversa, Machado de Assis).


Kahlmeyer-Mertens, Affonso Romano e Max (ainda Machado)


Kahlmeyer-Mertens (canto esquerdo) com Israel Pedrosa e Affonso Romano de Sant'Anna


Max e ARS...


Marina Colasanti, Affonso Romano de Sant'Anna e Maximiano de Carvalho e Silva
  

Luzia da Maria, Lena Jesus Ponte e Wanderlino Teixeira Leite Netto: Escritores de Niterói


 Israel Pedrosa autografa a segunda edição de Da cor à cor inexistente para Francisco Caruso, ao fundo se vê a escritora Marina Colasanti com Luzia de Maria


Kahlmeyer, Portinari e Prof. Max





Prezados usuários de Literatura-Vivência, os conteúdos do Blog são franqueados a todos que desejarem usá-los, contanto que creditada a fonte. A observância a este ponto, antes mesmo de ser obediência à rigorosa legislação brasileira de direitos autorais (lei 5,988 de 14/12/1973) é, aqui, apreciada como cooperação com os veículos que ajudam a difundir e apoiar a cultura de nosso estado. Agradecemos, portanto, a dileta referência.


Divulgação Cultural
(Clique na imagem para ampliar)