segunda-feira, 7 de maio de 2012

“Friburgo em três tempos” – poesias de Humberto El-Jaick


O título evoca o livro que o saudoso educador e acadêmico Paulo de Almeida Campos dedicou a Nova Friburgo – RJ, no ano de 1987. Entretanto, hoje, sob a mesma legenda, temos aqui a obra de outro educador (advogado, jornalista, poeta) e imortal da Academia Friburguense de Letras: Humberto El-Jaick.
Nas poesias de El-Jaick, temos um retrato lírico daquela cidade que – segundo a metáfora de Rui Barbosa – seria a mais preciosa esmeralda na coroa de nossas serras fluminenses.
Estejamos, pois, preparados para um pouco de memória e literatura friburguense e, por extensão, fluminense.   


(técnica mista, 29,7 x 42 cm) Exclusivo para o Literatura-Vivência.




                                                                             Humberto El-Jaick


Minha terra

Ouve estes versos - forasteiro amigo -
e podes crer em tudo que te digo
sobre a minha Friburgo!...
Obra prima de graça e formosura,
ela traduz a mais pulcra escultura
do Excelso Taumaturgo.
Nem de Platão a Atlântida desfeita
foi sonhada tão linda e tão perfeita
como o que existe aqui!...
A Fonte de Juvêncio, o Eldorado,
todo o sonho do Homem do Passado
verás, onde eu nasci.

Mas, se acaso duvidas que a beleza
pode espelhar-se, assim, na Natureza,
vê tu, com os olhos teus!...
Visita minha terra e, sem despeito,
se encontrares um único defeito
rasga estes versos meus.

Vê do cimo da imensa Caledônia!...
Não teve a legendária Babilônia
“jardim suspenso” igual.
Seria das paixões a mais profana
comparar-se a mais hábil mão humana
ao Poder Celestial.

Percorre do Brasil este recanto
e hás de sentir o mais sublime encanto
que  pode um sonho teu!...
E, em vendo o belo que Friburgo encerra,
dirás: - Eu vi, dentro da própria Terra,
um  pedaço do Céu.


Fonte do suspiro


Não sei se vêm do céu ou do cimo do monte;
sei apenas que as gera o ventre do horizonte
em mágico retiro;
depois rolam riscando a densa e verde mata
qual um raio de luz sobre um veio de prata
as águas do Suspiro!...

Ninguém,  logrou jamais, nem a própria ciência,
definir a sublime e dolorosa essência
dessas estranhas águas;
difere o seu sabor ao sabor das criaturas:
para quem é feliz são límpidas e puras;
para quem sofre?! – mágoas.
Como se a Fonte fosse um coração humano
a jorrar sonho, e tédio, e desengano,
em triste soledade:
ora sobre uma flor, ora sobre um espinho,
as águas vão rolando e dizendo baixinho:
Amor... ciúme... saudade.



Lenda de Friburgo


Conta a História que Deus, supremo e inigualável,
quando o Mundo pintou, com divino pincel,
sentiu necessidade extrema e inadiável
de colocar na Terra um pedaço do Céu.

E pensou!... Pensou muito enquanto, imperturbável,
via  e revia – Justo – o sublime painel.
e, por fim, concluiu, com gosto incomparável,
que Friburgo seria o retrato fiel.

Para levar a termo a gigantesca obra
foi-lhe breve semana ainda tempo de sobra,
não precisou de ajuda o Operário-Engenheiro.

Seis dias trabalhou com todo o ardor e afinco:
gastou  apenas um para o Universo inteiro,
levou, para fazer Friburgo, os outros cinco.








Divulgação Cultural
(Clique na imagem para ampliar)



3 comentários:

  1. Olá professor Roberto. Beleza de poesias friburguenses. Aprendi a amar Nova Friburgo. Lá morei por sete anos quando estava no seminário para os estudos eclesiásticos. O quarto onde morei já não existe mais desde o doze de janeiro de 2011. Apenas um resto da biblioteca que ajudei a organizar quando lá estive. De fato, Nova Friburgo é encantadora. Por deixaram seus mais nobres Suspiros: Rui Barbosa e Carlos Drummond de Andrade. Um abraço. Mauro Nunes

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  2. Minha vida belas passagens na cidade de Friburgo. Parabéns, Poeta!
    Belvedere

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  3. Roberto, os sensíveis e ultrarromânticos poemas de Humberto El-Jaick, peculiares à dicção da época, levaram-me a Friburgo e à infância. Aos laços/braços dos Braune, alicerces famliares. Ao busto do tio-avô benemérito, eternizado no bronze da praça.
    Os versos tiveram o sabor das "madeleines proustianas" em busca do tempo perdido e do meu retorno a Combray, à Friburgo já enevoada na geografia do coração.
    Obrigada pelo resgate do passado: pela escrita de El-Jaick, vulto de expressiva presença, e por minhas lembranças.

    Dalma Braune Portugal do Nascimento.

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