sábado, 23 de junho de 2012

Projeto "Livros que marcaram Niterói" ("Viagem literária através do Estado do Rio", de Luiz Antonio Barros)

 
 
Convicto do brocardo lobatiano segundo o qual “um país se faz com homens e livros”, tentei elencar, de memória, aqueles títulos que eu acreditava representar bem a cultura literária de Niterói. Consultando várias pessoas ligadas ao meio acadêmico de minha cidade, foi curioso o fato de minha lista coincidir com os títulos apontados por aqueles conhecedores de livros. Diante desta coincidência (ou deveria dizer “feliz serendipidade”), animei-me, sem maiores pretensões, a apresentar quinzenalmente alguns dos livros que teriam, de algum modo, marcado a cena literária niteroiense. Livros que trouxeram contribuições substanciais em alguma área, inovações, resgates, celebrações de datas festivas da cidade e que, até, ficaram conhecidos pelas polêmicas que causaram. Em todos esses casos, o valor literário ou histórico foi o que deu o critério para essas escolhas que – longe de serem completas – serão singelos afagos na cultura de nossa cidade.
A contar de hoje, assim, em cada quinzena, o leitor de Literatura-Vivência poderá conhecer, no Projeto “Livros que marcaram Niterói”, um pouco mais das nossas letras.
 
 
Viagem literária através do Estado do Rio






Em 2010, publicou-se um livro relativamente pequeno ainda não suficientemente divulgado, Viagem literária através do Estado do Rio, (Niterói: Nitpress, 2010, 190 p.), organizado pelo professor Luiz Antonio Barros, professor de língua portuguesa do Colégio Militar do Rio de Janeiro, autor didático, dicionarista meticuloso, estudioso sobretudo de questões etimológicas e semânticas. O livro traz um primoroso prefácio do escritor Roberto Kahlmeyer-Mertens e iluminadoras orelhas de Luiz Augusto Erthal.
O autor, com mais esta obra, confirma seus inegáveis dotes de um pesquisador que sabe como encontrar o melhor caminho de reunir seu material pesquisado, no caso, autores nascidos no Estado do Rio de Janeiro.Contudo, reunir não é o suficiente para este pesquisador, porque ele avança no que está realizando, i.e., compõe uma antologia de escritores, inserindo os de maior projeção e outros de menor projeção ou quase desconhecidos, como Max de Vasconcelos (1891-1919), Walter Siqueira, Menezes Wanderley, dos quais nem dados biobibliográficos sequer encontrou o antologista.
Outro escritor, entre outros citados pelo organizador seria o poeta satírico e ator profissional, José Inácio da Costa, pseudônimo de Capacho, que viveu no Rio de Janeiro durante o vice-reino pré-joanino, de quem pouco se sabe e nem mesmo onde e quando faleceu. Disso resulta uma antologia enxuta, agradável, que, na verdade, nada tem das velhas fórmulas de se organizar uma antologia, cuja metodologia consistia apenas em reunir autores, fornecer-lhes dados biobibliográficos e selecionar excertos que melhor atendessem à subjetividade do organizador ou dos organizadores. Naturalmente, esta subjetividade será traço comum a qualquer organizador de antologias.
Para alterar esse modelo já gasto, Luiz Antonio opta por uma forma diferente e mais amena de aliviar o leitor, já que a reunião de autores e textos diferentes torna-se por vezes cansativa, quando prolongada no seu tempo de leitura. Para suavizar essa monotonia, o organizador resolveu, de forma original, apresentar seus autores sinalizando os escritores por grupos geográficos específicos, com capítulos ou seções sugestivos e aliciantes, como, por exemplo, o primeiro capítulo intitulado “Por lagos e mar há algum tempo navegados”.
Pode-se dizer que a antologia abrange a totalidade das cidades do Estado do Rio de Janeiro. Se há omissões de autores, e, neste gênero de publicação sempre os há, creio que não foi por culpa do antologista.
Outra novidade introduzida por Luiz Antonio foi a oportuna e eficaz ideia de, até por associá-la ao próprio título da antologia, fornecer breves informações históricas, etimológicas, econômicas, paisagísticas e culturais sobre a cidade ou região que precedem cada escritor incluído, além de, em alguns casos, resumidas apreciações críticas a respeito de obras significativas dos autores, assim como dados biobibliográficos na medida do possível e do que o autor conseguiu colher das pesquisas por ele empreendidas.
Fica-se sabendo o quanto de valores literários permanecem olvidados pelo povo, mesmo por especialistas em literatura brasileira. Obviamente, a quantidade de autores menores é grande, mas se descobre afinal que, entre os esquecidos, há deles de real valor literário, que são dignos de estudos por parte dos estudiosos de literatura. Já por isso vale a pena conhecer esta antologia.
Quanto aos textos selecionados, vejo que o organizador teve bom gosto e foi criterioso, ele que é um experiente professor e um assíduo leitor de literatura brasileira. Nestes textos, o leitor atento, o professor de literatura, hão de encontrar material inestimável para a sala de aula. Eu, particularmente, me surpreendi com nomes de autores merecedores de estudos pela qualidades de suas obras e pelo quase anonimato em que se encontram no panorama da literatura brasileira, tanto do passado quanto da atualidade. A antologia de Luiz Antonio tem este mérito, o de suscitar o interesse por esse autores pouco ou quase nada conhecidos por especialista, Acredito que isso é uma realidade de âmbito nacional, de solução quase incontornável. A literatura é também feita de injustiças por parte de historiadores.
Seria conveniente ao organizador que mantivesse as partes da antologia uniformes, o que vinha acontecendo sem problema até à citação do escritor Wanderlino Teixeira Leite Netto (p.175). Até aí o organizador vinha inserindo textos correspondentes a cada autor, ficando de fora desta norma, infelizmente, os nove autores que finalizam a antologia.
O organizador às páginas 108-109, discorrendo sobre a cidade de Porciúncula e a origem do seu nome, desta vez não inclui, nenhum escritor. Apenas cita um comentário de dois autores sobre a expressão diminutiva “porciúncula”, que, para eles, não vem a ser o nome pelo qual foi designado aquele município. Para eles, Porciúncula foi assim chamada simplesmente por homenagem a Tomás de Porciúncula, o qual fora Presidente (ou Governador) do Estado do Rio de Janeiro. O texto “Armadilha da sardinha coqueiro”, ali selecionado, aliás, bem interessante pelo seu bom nível literário- humorístico apenas se incluiu, penso eu, pela relação geográfica com o município. Neste caso, o organizador foge ao plano geral da natureza do livro.
Na questão da inclusão de nomes na antologia de Luiz Antonio, que é um nó górdio de qualquer antologista, e que muitas vezes provoca polêmicas devido às suscetibilidades dos autores não incluídos, teria sido bom que o antologista tivesse incluído o nome da escritora, Roza de Oliveira, trovadora, poetisa, ensaísta, autora de literatura infantil,, admirável declamadora, e professora universitária aposentada,nascida em Santo Antônio de Pádua, Rio de Janeiro e residente há muitos anos em Curitiba. Roza continua atuante na atividade literária, mantendo-se em plena forma com suas oficinas de poesia em Curitiba e divulgando seus trabalhos de poetisa e de consagrada trovadora dentro e fora do Paraná. Não culpo o antologista por qualquer omissão involuntária, principalmente porque, o mais das vezes, durante a organização dos dados coletados, ele mesmo não teve notícia de uma autora fluminense que está fora do Rio há anos e nem pudera encontrá-la em obras predecessoras.
Creio que, com esta nova obra, Luiz Antonio, conforme o fizera com o seu útil Dicionário de ditados, provérbios, alusões, citações e paródias (Niterói: Nitpress, 2008, 317 p.) estará prestando mais uma grande contribuição aos estudos literários, ao mesmo tempo em que sua Viagem literária através do Estado do Rio vem tornar mais conhecidos dos leitores cariocas, fluminenses e brasileiros em geral, e nos diversos gêneros literários, alguns escritores de destaque mas menos conhecidos que, ao lado de Machado de Assis, Lima Barreto, Euclides da Cunha, Fagundes Varela, Casimiro de Abreu e tantos outros, nascidos no Estado do Rio de Janeiro, aí estão à espera de serem agora mais bem estudados, divulgados e pesquisados.
Luiz Antonio cuidou, quer pela capacidade de pesquisador, quer pelas atualizadas referências bibliográficas, antecedidas de siglas que, no corpo do livro, facilitam enormemente o leitor, quer, finalmente, pelo impecável índice onomástico, acrescido da página referente ao autor, de preencher esta lacuna e o fez com competência e dedicação, qualidades que sempre nele apreciei desde quando fui dele colega no Colégio Militar do Rio de Janeiro.


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Divulgação Cultural
(Clique na imagem para ampliar)
 


19 comentários:

  1. A mensagem da música é bonita!

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  2. Por que é que o 3 Salão de Leitura não teve por tema o Centenário de Pimentel? Afinal 2012 não é o ano de seu centenário?!

    Falou-se do centenário do poeta até março e acabou?

    Omissão?

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  3. Pois é, minha gente... O poeta Luiz Antônio Pimentel completou 100 anos de idade vivo e a cidade ignora o melhor representante da literatura/cultura de cidade. Dá para acreditar?
    Qualquer cidade que tenha alguém como Luiz Pimentel teria orgulho de promover um evento temático sobre esta figura tão especial! Acho que em Niterói será preciso que Pimentel morra para que as autoridades locais dêem valor a sua figura e trabalho com as letras.

    Não que eu não tenha gostado de assistir ao show do Luiz Melodia ontem e que desgoste de ter Maria Bethânia em Niterói, mas um evento como este precisa valorizar os da “terrina”. Em minha opinião, a organização falhou feio com o centenário Luiz Pimentel.

    Zandra Leal

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    1. Não foi só aí a falha não!
      Marcelo Lopes

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  4. Pô Kahlmeyer,

    A prefeitura já não faz tanto quanto poderia pela cultura de Niterói, quando faz alguma coisa a turma ainda vem pixar!

    Você não deveria permitir estes tipos de comentários em seu Blog!

    Alberto

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    1. Prezado Alberto Lima,

      O espaço reservado a comentários em "Literatura-Vivência" é de domínio público e, neste, as pessoas são livres para expressar suas opiniões.
      Não cabe a mim filtrar o que é publicado (eu não tenho nem pretendo o poder de censura). Só não publico ofensas e palavrões.

      No mais, as pessoas dizem o que pensam e a responsabilidade é delas.

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    2. Roberto deve deixar oa expressão livre. Ninguém está agredindo. Dizem apenas o que pensam.
      Marcelo Lopes

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  5. Literatura-Vivência garante a livre expressão de comentários dos frequentadores do Blog, mas não necessariamente endossa as opiniões aqui veiculadas, sendo elas de inteira responsabilidade de seus propositores

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  6. Vejam quantos eventos sobre Luiz Pimentel no 3 Salão?

    Zandra Leal

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  7. Xiiiiiiiiiiiiiiiiiii...

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  8. Caro Roberto Kahlmeyer-Meterns:

    Torço pra que todas as manifestações concenentes a Niterói com locus cultural, seja frutíferaa. A cidade, me parece, é um dos polos, excetuando Rio e São Paul,que mais atuantes na vida literária e cultural do esstado do Rio.
    Obrigado pela republicação da minha resenha do livro do amigo comum, Prof. Luiz Antonio Barros, a quem mando um abraço fraternal.

    Para você, muito sucessos, como sempre!

    Forte abraço do

    Cunha e Silva Filho

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  9. Admiro muitíssimo o Professor Luiz Antonio. Competência, simplicidade e simpatia. Grata pela postagem, Roberto!
    Abraços
    Belvedere

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  10. Concordo que deveria haver programações sobre Luís Antônio Pimentel neste 3 Salão de Leitura.

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  11. Luiz Antônio Barros é mestre vocacionado, daqueles que ouviu o chamamento, entregou-se a ele e ao longo do seu caminhar profissional, como professor/educador,
    vem laboriosamente cultivando saberes, compartilhando descobertas e redescobertas sejam na literatura ou no vernáculo do idioma pátrio. Admiro o seu texto, admiro seu comprometimento, o seu despojamento. O professor Luiz Antônio Barros, hoje, também, acadêmico da Academia Niteroiense de Letras, é escritor respeitado pela seriedade de suas obras, como“Viagem literária através do Estado do Rio de Janeiro” que se aprecia neste Literatura e Vivência, muito têm contribuído para o conhecimento da cultura de nosso estado. Ele está entre nós, é nosso colega-amigo-confrade e seus olhos brilham e sorriem quando se fala de livros, de história, de letras. É um professor, um intelectual, entusiasmado como um jovem estudante e faz-me lembrar o pedagogo-filósofo-poeta Professor Rubem Alves, que conheci nos tempos da Faculdade de Pedagogia e ainda hoje gosto de ler e reler seus didáticos e lúcidos escritos.
    Obrigada, Luiz Antonio, pelo bom companheirismo acadêmico/literário.
    Sucesso, sempre!
    Liane Arêas.

    Roberto, parabéns e obrigada por esta importante postagem. E para o Projeto de publicações quinzenais sobre Livros que marcaram Niterói, anunciado acima... Todo o êxito! Liane.

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    1. Parabéns pelo texto, Liane. Vc disse tudo!
      Belvedere

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  12. ESTE LIVRO É MUITO NOVO PARA TER MARCADO NITERÓI.

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    1. Prezada Terezinha,

      No "Programa Livros que marcaram Niterói" as escolhas são feitas diante do valor literário do livro, e não em face de sua idade. Existem livros novos (como este) que trouxeram grande contribuição a nossa literatura. Livros antigos também, não é a toa que temos previsto para as próximas postagens os "37 Poetas Fluminenses" e a "Antologia Paisagem Fluminense". Livros que além de serem mais velhos tem valor (e só por isto estariam destacados aqui).

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  13. É uma vergonha não haver quase eventos sobre pimentel no 3 salão

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  14. Salve o admirável Professor Luiz Antonio. Um abraço.
    Belvedere

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