segunda-feira, 17 de setembro de 2012

Tradução do poema “Loreley”, de Heinrich Heine.



Estátua de Loreley no vale do rio Reno, na Alemanha.


“Loreley é o nome de um personagem lendário do folclore alemão, cantado num belíssimo poema por Heine. A lenda diz que Loreley seduzia os pescadores com seus cânticos e eles terminavam morrendo no fundo do mar, já não me lembro de detalhes”. É assim que, no romance Uma aprendizagem ou um livro dos prazeres, Clarice Lispector apresenta o poema de Heinrich Heine que empresta nome à protagonista deste que (em minha modesta opinião) é seu mais impressionante livro. O referido poema, parte integrante de conjunto mais amplo chamado Die Heimkehr (O retorno à pátria), até onde sei, ainda não possuía tradução para o português. Seguem, assim, os versos de Heine sobre Loreleys, Lígias, Leucósias, Partênopes e Clarices...
Folha de rosto de Buch der Lieder, de Heinrich Heine, primeira edição, s/d.
Acervo da biblioteca pessoal de Roberto Kahlmeyer-Mertens

2.
Ich weiss nicht, was soll es bedeuten,
Dass ich so traurig bin;
Ein Märchen aus alten Zeiten,
Das kommt mir nicht aus dem Sinn.
Die Luft ist kühl und es dunkelt,
Und ruhig fliesst der Rhein;
Der Gipfel des Berges funkelt
Im Abendsonnenschein.
Die schönste Jungfrau sitzet
Dort oben wunderbar,
Ihr goldnes Geschmeide blitzet,
Sie kämmt ihr goldenes Haar.
Sie kämmt es mit goldenem Kamme,
Und singt ein Lied dabei;
Das hat eine wundersame,
Gewaltige Melodei.
Den Schiffer im kleinen Schiffe
Ergreift es mit wildem Weh;
Er schaut nicht die Felsenriffe,
Er schaut nur hinauf in die Höh’.
Ich glaube, die Wellen verschlingen
Am Ende Schiffer und Kahn;
Und das hat mit ihrem Singen
Die Lore-Ley gethan.
(HEINE, Heinrich. Die Heimkehr. In: Buch der Lieder.
Berlin: S. Fischer Verlag, s/d. p.109)
 
2.
Eu não sei o sentido
De tristeza tão assaz 
Por um conto de tempo ido
Que significado a mim não traz.
O ar fresco e profundo,
O Reno manso a fluir;
Das montanhas cintila o cimo;
Da tarde de sol, o luzir.
A mais bela moça sentada
Em maravilhoso lugar,
Seu cabelo dourado penteia,
Com o ouro dos adornos a lampejar.
Ela alisa louras cãs caídas aos ombros
E canta uma canção que alicia;
Há um assombro
Em sua poderosa melodia.
O navegante no pequeno navio,
Capturado por selvagem dor,
Não divisa o recife rochoso,
Só visa à face superior.
Creio, as ondas hão de arrastar
Ao fundo, navegante e barco
Eis o que, com seu cantar,
Loreley leva a ato.
(Tradução do alemão feita por R. S. Kahlmeyer-Mertens)